Primeiro single de Gal Costa completa 60 anos com os registros iniciais da voz que ganharia amplitude e imortalidade
06/07/2025
(Foto: Reprodução) Capa do single ‘Eu vim da Bahia / Sim, foi você’, de Maria da Graça
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♫ MEMÓRIA
♫ O ano de 2025 seria duplamente especial para Gal Costa. Além de completar 80 anos, a cantora festejaria 60 anos de carreira fonográfica. Sim, foi em 1965 que a voz de Maria da Graça Costa Penna Burgos (26 de setembro de 1945 – 9 de novembro de 2022) começou a ser perpetuada em disco.
A rigor, o primeiro registro fonográfico da artista foi no primeiro álbum de Maria Bethânia, lançado em 1965 pela gravadora RCA com a participação de Gal na gravação de Sol negro, música de Caetano Veloso, compositor que seria um norte nas trajetórias de ambas as cantoras.
Contudo, o primeiro título da discografia de Gal Costa foi single – compacto simples, no jargão do mercado fonográfico da época – editado em vinil de 33 rotações com as gravações das músicas Eu vim da Bahia e Sim, foi você.
Na capa do single, a cantora se apresentou como Maria da Graça, nome de batismo. Mas Gal, naquela época, era mais Gracinha do que Maria da Graça. Os amigos a chamavam de Gracinha desde os tempos de Salvador (BA), cidade natal onde Gal – aliás, Maria da Graça – pôs pés na profissão de cantar após trabalhar como balconista de loja de discos.
A estreia da cantora nos palcos tinha acontecido em 1964 no Teatro Vila Velha – situado no Centro da capital da Bahia – com os shows Nós, por exemplo... (apresentado em 22 de agosto daquele ano de 1964) e Nova bossa velha, velha bossa nova (estreado em novembro, três meses depois do show anterior), ambos apresentados por um coletivo que, além de Gal, incluía Caetano Veloso (que Gal conhecera em 1963), Gilberto Gil (que Gal conhecera através de Caetano) e Maria Bethânia.
Ao lado desse trio, Gal pavimentou o caminho para o estrelato e essa rota passou pelo Rio de Janeiro (RJ), cidade onde a cantora, vinda da Bahia, gravou o primeiro single.
O lado A do compacto trazia samba de Gilberto Gil, intitulado justamente Eu vim da Bahia, no qual Gal exaltava a terra natal ao mesmo tempo em que expunha o percurso migratório que a levaria ao sucesso nacional ainda na segunda metade da década de 1960.
Em 1965, a tímida Gracinha era cantora devota de são João Gilberto (1931 – 2019), padroeiro da bossa nova que havia feito a cabeça da geração de Gal, Caetano e Cia. No entanto, essa devoção não transparece de forma explícita no canto ligeiramente empostado do samba de Gil – e essa forma de cantar talvez tenha sido indicação de Roberto Freire dos Santos, produtor do single.
No lado B do compacto, Maria da Graça apresentou tristonha canção inédita de Caetano Veloso, Sim, foi você, registrada em tons suaves pela intérprete debutante em bela gravação emoldurada por cordas.
Editado pela RCA Victor, como exposto na capa de poluída arte visual, o primeiro compacto simples de Gal Costa foi bem recebido no meio musical, mas não chegou de fato ao público (do fantástico quarteto baiano, somente Bethânia conseguira projeção nacional ao ingressar em fevereiro de 1965 no elenco do espetáculo Opinião). Tanto que a cantora somente retomaria a carreira fonográfica dali a dois anos, já na gravadora Philips, na qual gravou o primeiro álbum, Domingo, lançado em 1967 e dividido com Caetano Veloso porque o diretor da companhia, João Araújo (1935 – 2013), não detectou potencial comercial nos dois cantores para que cada um gravasse o próprio LP, mas tampouco quis negar a chance aos artistas de gravar um álbum.
Só que o compacto de 1965 com as músicas Eu vim da Bahia e Sim, foi você acabou se tornando um marco da música brasileira, pois o tempo fez justiça ao dar caráter histórico e alto valor documental a esse primeiro single de Gal Costa. Afinal, ali estão os dois primeiros registros individuais da voz cristalina que ganharia amplitude e alcançaria a imortalidade ao longo desses 60 anos.